sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre as coisas



mora em mim uma eterna nostalgia
as correntes mantendo a fonte
oceanos continuamente tocando-se
indo, vindo, rodando
rondando espaços
parindo corpos
livres de si
livre dos portos que atracam
retornando à deusa azul
como nós retornamos ao ventre
do amor que nutre nossos corpos em movimento
eternamente livres de si
correndo águas
banhando-se nelas
sentindo sede
e ainda assim essa sede que não cessa



Camila Brito

quinta-feira, 3 de setembro de 2009




Troquei os pés, uma boa noite sem resposta
Quis voltar pela mesma porta em que havia entrado
Apenas o meu corpo
o resto foi caindo pelo caminho
fragmentando-se, diluindo-se, ardendo, de bons quereres.
Apenas o meu corpo
E ainda assim nem todo por completo
Umas partes pela tua cama, outras pela tua pele
Rasguei os pensamentos que outrora quis congelar em um papel qualquer
Doía por fora, entre as dobraduras dos órgãos
E as esquinas da realidade que latejava em minha cabeça
Em frente à cadeira havia uma máquina
Que me levava, não sei bem como, ao exato lugar em que deveria estar
o lugar qual deixei atrás da porta, antes de trocar os pés e perder aquelas tais partes do meu corpo
Não pedi aos céus que caíssem e trouxessem os deuses
não quis ouvir tais favas que inconformam o meu estar dentro de mim
Essas noites de deleite sem pudor, esperam-me
E eu também as espero, gozada nos melhores travesseiros
Roupas bem lavadas, perfumes recém-abertos
E atrás da porta um mundo
que no encontro com o que carrego em mim
Há uma festa de prazeres indizíveis, salvo os tortos ouvidos
Estou salva!
São os salvos
Acho que sobrevivo até minha morte.