sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ao útero da terra





Me destes olhos
quais puderam ver a beleza além da fronte
Me destes mãos
quais passaram por podres carnes
mas puderam tocar teus cabelos ralos e perfumados
Me destes dois pés
perco-me, encontro-me, em tantos quadrados de chão
Criei um mundo pra mim
enquanto podia estar cega de realidade
Eu escolhi voar
enquanto tu rasgavas o coração
e distribuía dentre as lágrimas que os covardes bebem
Eu não sei quem sou, nem onde quero chegar
tu caminhas para o futuro
e por onde vai brotam flores
Sabe da dor, se perde nela
Eu vago na rua deserta da alegria
Brindo o amor com os amigos
choro sozinha no banheiro sujo
Tu que me empurrastes pro abismo
como uma mãe passarinha
Viu-me pegar os ventos quentes
que migravam pra outra direção
e só voltar quando nada mais me fazia sentido
querendo teus braços por mais uns tempos
e deixando-te de novo a esperar meus braços
Não pude ver teu choro, pois eu estava dormindo
Eu sonhava
Tu cantavas para o mundo em tuas costas
e ouvia o eco no vazio dos homens
e nem assim deixastes o teu filho
este que é o maior e mais cruel de todos
Não sei se vou longe
repito, nem mesmo sei por onde a trilha segue
Tu que sabes de tudo
e ainda assim de nada sabe
Ergue-me tuas mãos
mas não antes de tocar o teu próprio corpo
e não te preocupes
nestas horas estarei voando
Nos encontraremos após
num pequeno lugar
dos que amam e choram

Camila Brito
pintura de Colette Calascione

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ao amor que me move

Quantas voltas até lhe achar
quantos desencontros até nos encontrarmos
o tempo lhe trouxe, me trouxe
e hoje estamos aqui, assim
onde devemos estar
como a vida assim se mostra
tão bela e rotineira
e você me preenche, me conforta, me alimenta
você me completa
e hoje há tanto o que falar, o que sentir, viver
quanto amor para seguirmos em frente
mergulhamos em nossos próprios desejos
os mais sinceros, verdadeiros, belos
mergulhamos em nossa própria verdade
no amor que construímos a cada dia
e ainda há muito, há tanto
assim como me envolves
como em tuas mãos deixo minha alegria
Amo-te por quem és
e como em mim te acendes
Amo-te porque sou
e como em ti nasço
Amo-te meu bem,
por completo.
Camila Brito, 01.2010






quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Por entre os lábios
surgem, enrroscadas luvas
desvendando os sóis de faíscas pulsantes
e o céu privado queixa-se das sombras findas
dos tempos de reza
a tanto, postos passados
o dia enfim chegaste
e assim expostas as carnes veladas
desfaz-se
derrete
e líquida, branca
retorna para olhar a lua.


Camila Brito